Residir no Reino Unido, significa viver de perto com a opção da energia nuclear. Tema mais do que medonho nos media portugueses,tabu até, a utilização de energia nuclear para produção de electricidade tem sido sempre olhada como algo a temer e a barrar a todo o custo.
Por Mike Silva
Fica bem para debates televisivos, e para partidos "verdes" tão na moda insurgirem-se contra este tipo de tecnologia, embora por vezes nem percebam como tudo funciona e acontece. Não existindo praticamente nenhum esclarecimento e técnicos sobre energia nuclear em Portugal, o povo cresce a comparar esta forma de produção de energia com a explosão de Hiroxima. É como se comparássemos um porta-aviões armado até aos dentes, com uma fisga.
Conhecida que é por vós a minha apetência para o debate de assuntos polémicos, e por lançar o debate sobre caminhos pouco trilhados, decidi por isso trazer á praça pública este assunto, tantas vezes escondido, mal-interpretado, distorcido e incompreendido.
A energia nuclear, é perigosa. Não tenhamos dúvidas sobre isso. Qualquer coisa que pese um quilo, e gere o calor equivalente a noventa vagões de trinta toneladas de carvão, deve ser tratada com respeito , conhecimento e precaução.
Como funciona um reactor nuclear?
Este termo medonho, não é nada mais do que uma panela de água grande, a ser aquecida pelo calor libertado da combustão de Urânio pobre , em camadas muito pequenas e facilmente controláveis. A radioactividade mede-se com aparelhos Geiger, e a unidade de medida é o Roetgen. Muitos corpos de bombeiros no UK estão equipados com fatos e medidores próprios.
A combustão do Urânio, que se encontra sob a forma de plasma, processa-se entre discos gigantes de chumbo, que são mudados obrigatóriamente de três em três anos. O calor da combustão, vai ferver a água , que ao provocar vapor sob pressão vai fazer girar turbinas que produzirão electricidade.
O tamanho de um "reactor nuclear", este monstro tão medonho, é aproximadamente o mesmo de uma Ford Transit. Sim, um reactor nuclear é estupidamente pequeno. As torres de refrigeração, ou as "chaminés", apenas expelem vapor de água resultante da refrigeração do reactor, e não substancias radioactivas.Uma central nuclear pode ter cerca de oito reactores , cada um com um centro de comando e monitorização próprio.
O tipo de Urânio utilizado numa central nuclear, é muito mais "fraco" do que o utilizado para fins militares, e não pode ser "roubado" para produzir bombas. É como se fôssemos roubar um motor de uma Zundapp, para propulsionar um camião.
É claro que todos estaríamos melhor sem este risco acrescido. Mas a procura do Homem por mais bens de consumo, por mais produção, por mais lucro e por mais energia, não se pode satisfazer com dispendiosas centrais térmicas a carvão e a combustível fóssil. As energias renováveis, são muito bonitas, mas o Homem precisa desistir da sua procura pela produção de opulência e riqueza para que elas possam ter uma chance.E não sei também se quero todo e qualquer centímetro quadrado do mundo coberto de painéis solares e de ventoínhas. Mesmo que isso acontecesse, nem mesmo assim poderiamos saciar o apetite por energia que parecemos ter cada vez mais. A energia nuclear é apenas mais uma lenha seca que atiramos para a voraz fogueira do consumismo, na esperança que nos aterre em casa mais e mais barata energia, o que tarda a acontecer. A resposta mundial está no "downgrade" do consumo e em percebermos de que temos de consumir menos.
Chernobyl aconteceu há vinte anos, e muitas lições se tiraram do acidente, e a tecnologia evoluiu grandemente. Comparem por exemplo os carros de 1988, com os de 2008. Uma central nuclear não "explode" e o que aconteceu com Chernobyl foi uma fusão do reactor que era mal mantido, e a fuga aconteceu para atmosfera.
Não defendo a opção nuclear, mas compreendo a necessidade do lucro e do desenvolvimento. A electricidade já está cara. Esperemos que não tenhamos de pagar caríssimo por esta opção...
(Mike Silva reside no Reino Unido e é autor e correspondente de diversos media portugueses e ingleses)